Daquele dia eu me lembro da amiga que me levou pra casa, da que passou a noite comigo, da que deixou o bebê em casa para me dar um abraço, dos amigos que ligavam o tempo todo oferecendo qualquer tipo de ajuda (material, emocional, espiritual), dos que deixaram de trabalhar para estar lá na hora do enterro, das pessoas que eu não esperava, mas apareceram, até da amiga que não foi porque eu esqueci de avisar, mas que estaria lá com certeza.
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Nossa última foto juntos, em seu aniversário, em 07/04/06 |
Antes de escrever, eu pensei se não era um tanto quanto piegas vir aqui falar dos 5 anos do falecimento de meu pai.
Não, porque eu não vim dizer que ele era o melhor pai do mundo, porque na verdade não era. Ele era um ser humano como outro qualquer, cheio de defeitos e angústias. Eu costumo dizer que ele era ótimo como tio: brincalhão, divertido, bagunceiro, sempre pronto a passear.
Também não vim aqui dizer como era nosso relacionamento. Eu vim falar em como minha vida mudou nesses últimos 5 anos. Quando eu me vi tendo que resolver velório, inventário, Imposto de Renda, eu percebi que realmente era adulta e não tinha mais volta, que dali pra frente eu teria, cada vez mais, que me virar sozinha. Depois disso, eu aprendi a não levar as coisas tão a sério e a não sofrer por pequenos problemas. Que a vida tem que ser vivida agora, não no passado ou no futuro. Eu sei que parece livro de auto-ajuda, mas até você passar por isso, você não sabe o que realmente quer dizer. Porque, de uma hora para outra, eu tive que viver sem uma das pessoas mais importantes da minha vida. E se eu sobrevivi a isso, sobrevivo a qualquer coisa. Aprendi também que, na maioria das vezes, as grandes mudanças em nossas vidas acontecem sem que nós tenhamos programado. "Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente"
Foi com esse pensamento que, exatamente no dia 06 de Junho de 2007, 1 ano depois, eu estava assinando o contrato da minha viagem para San Francisco. Porque eu sabia que você pode perder chances que não encontrará jamais, e terá a vida toda para se arrepender. Foi assim também que eu vim para a Itália (em 2007, por 3 meses) quando o Davide me chamou, porque estava apaixonada, sabia que ele era a pessoa certa, e não poderia deixar essa chance escapar. "Cada um de nós compõe a sua história, cada ser em si carrega o dom de ser capaz, e ser feliz"
Depois, tudo que nós passamos, os meses separados, a decisão dele de ir ao Brasil, a complicada decisão de voltar para a Itália, não foram fáceis, mas não foram piores do que perder meu pai. Para enfrentar tudo isso eu sempre pensei que o pior, que é a morte, eu já havia superado.
Ao seguir meu marido e vir morar na Itália, eu não deixei de amar nem de sentir saudades da minha família e dos meus amigos. Mas eu acho que a pior saudade é a dos que não voltam mais (meu pai, minha avó, meu cachorro...). Porque, em tempos de internet, é fácil mandar e receber notícias, fotos, vídeos, falar e ver ao vivo. Fica até mais fácil você dizer às pessoas o quanto as ama e o quanto sente a falta delas. Mas ainda não existe um modo tão eficiente de correspondência com o além...
Mais do que saudades, eu sinto uma enorme pena por tudo que ele perdeu. Por não ter participado do casamento dos filhos e não ter conhecido pessoas tão importantes em nossas vidas: Davide, Silene, Pedro... Por outro lado, eu sempre penso em como ele reagiria quando soubesse que eu viria morar na Itália e acho que, sinceramente, ele se deu bem nessa. Penso nos netos que ele não conhecerá, e no avô divertido que essas crianças perderam. Eu mesma não conheci uma avó e às vezes fico bem triste por isso (eu carrego uma enorme carga genética de uma pessoa que me é estranha!). Pelo menos temos dezenas de vídeos onde posso mostrar a quem não o conheceu como era a sua risada, o jeito de falar, o jeito de arrumar os óculos.
Ainda mais triste é pensar em como eu mudei nesses 5 anos, mas será que, sem a perda dele, tudo isso teria acontecido?
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1989 - Meu pai em momento Zé Graça |
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